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“Acredito muito que a filantropia muda o mundo”, afirma Rubens Menin

Por Márcio Junio

publicado em 09/02/2022

Co-fundador da MRV , fundador da CNN Brasil e Banco Inter, o empresário Rubens Menin diz em entrevista que todos os esforços devem ser para “unir o Brasil"

Co-fundador da MRV Engenharia, fundador da CNN Brasil e fundador do Banco Inter, o empresário mineiro Rubens Menin tem usado a força de trabalho para ajudar as pessoas por meio de projetos e trabalhos sociais. Para ele, a “filantropia foi muito aguçada” nessa pandemia. Ao falar sobre as prioridades que o próximo presidente da República deverá ter no Brasil, Menin diz que os esforços devem todos ser para unir o País. Na visão do empresário, que ressalta a força da solidariedade, “o Brasil é um país que dá muitas oportunidades”.

O senhor é co-fundador da MRV Engenharia, fundador da CNN Brasil, fundador do Banco Inter e tem usado muito a sua força de trabalho para ajudar as pessoas através de projetos e trabalhos sociais. Como decidiu se dedicar à causa filantrópica?

Rubens Menin: Na realidade, não tem uma data exata, não. Eu acho que a filantropia está dentrodagente desde que a gente nasce. E ela vai acontecendo aos poucos, ela vai tomando conta. Eu falo que filantropia é igual a droga, vicia. Acho que a filantropia foi muito aguçada nessa crise que nós estamos vivendo agora, a solidariedade na pandemia foi muito grande. Então, ela está passando por um momento de muita divulgação no Brasil e no mundo. Eu acredito muito que a filantropia muda o mundo, está mudando o mundo e vai mudar ainda mais. As pessoas não imaginam a força que elas têm de poder mudar o mundo, e muito rápido, sabe? Quando todo mundo dá as mãos, quando todo mundo ajudaum pouquinho, é uma força enorme. Não adianta ter uma pessoa com muita ajuda, mas a força da união de todos juntos é imbatível.

O senhor é um dos fundadores do movimento Bem Maior, que tem a missão de fomentar a filantropia no Brasil. Além de sensibilizar, engajar e mobilizar recursos, esse movimento e o senhor apoiaram diversas iniciativas ao longo da pandemia. Como viu e viveu esse período que estamos atravessando?

RM: Eu respondo de duas formas. A primeira é o seguinte: vou falar um pouco do movimento Bem Maior. O movimento surgiu para ser um instrumento de convencimento das pessoas a doarem mais, e que isso seja a grande revolução na filantropia no Brasil. A sociedade brasileira é muito boa, muito solidária, mas ela ainda tem pouco hábito de doação. A filantropia no Brasil infelizmente ainda tem números muito baixos. É só 0,2% do nosso PIB. Muito pouco. Em países mais desenvolvidos como os Estados Unidos é 2% do PIB; na Inglaterra, 1,7%. A gente quer aumentar esse valor do PIB. Para isso, evidentemente as pessoas têm que fazer doações, mas é importante que toda a população se engaje nesse movimento. Em segundo, quando a gente fez o Bem Maior, a gente sabia que tem coisas que são urgentes nesse Brasil, mazelas, infelizmente, e que esses números são grandes. E a gente não vai conseguir resolver tudo, vamos tentar, podemos num primeiro momento tentar melhorar isso. Eu achava, quando a gente fundou o Bem Maior, que o mais importante seria doação em dinheiro. O Bem Maior se divide em d ois pilares. Um é doação e projetos: eu te dou o dinheiro e você faz projetos. Estão fazendo projetos maravilhosos, tem uma série de projetos que realmente fazem a diferença na vida das pessoas, mudam pra melhor. Mas hoje eu estou convicto que talvez o segundo pilar, que é o convencimento da sociedade para doação, seja o mais importante. Por isso eu vejo que esse tipo de discussão que estamos tendo agora é muito proveitosa e a gente faz com muito prazer, porque cada degrau que a gente vai subindo é uma vitória que a gente vai conseguindo, é uma batalha que a gente vai ganhando. E uma guerra se ganha com diversas batalhas.

O brasileiro é um povo generoso ou o senhor acredita que a pandemia mostrou pessoas mais individualistas e mais egoístas?

RM: Eu acho o brasileiro muito generoso, e já provou diversas vezes. O brasileiro é um povo amigo, caloroso, solidário. Quando eu falo em filantropia, é porque nós precisamos botar a filantropia na vida do brasileiro. É apenas questão de cultura. Mas eu não tenho dúvidas de que o brasileiro é um povo muito generoso.

Além da filantropia, o senhor se destaca como um dos maiores empresários do Brasil, com negócios em várias áreas. No mercado imobiliário, por exemplo, o senhor foi um dos fundadores da MRV, que se tornou a maior incorporadora da América Latina. Como avalia hoje o mercado imobiliário no Brasil?

RM: O Brasil é um país que dá muitas oportunidades. É um país continental, com mais de 200 milhões de habitantes, com muita coisa a ser feita. Nós estamos falando de moradia. Moradia é um dos pilares da economia brasileira. Mas tem muita coisa. Eu vi o caso do Banco Inter, do banco digital. Nós abrimos aqui 700 mil contas em um dia. Issoem 10 dias acabava a população de Portugal. No Brasil você tem muito chão pra fazer, então eu digo que o Brasil é um país de oportunidades. E por isso eu também acho que, da mesma forma que dá oportunidade, a gente tem que voltar um pouco para a sociedade aquilo que o Brasil dá para a gente. Para ser justo. É aquilo que hoje está muito na moda, que é o ESG, os três pilares: “environment”, que é meio ambiente; “social” que é social, e “governance” que é a governança da empresa. Então, acho que faz parte desse conjunto de ESG as empresas aproveitarem que têm essa chance num país como o Brasil, um país que com certeza vai ser uma nação rica, a gente espera que o mais rápido possível, mas que a gente de alguma forma possa também retornar um pouco para a sociedade.

A expansão do grupo se deu após investimentos maciços para o público de baixa renda, que era um público que não tinha talvez a atenção das grandes construtoras. Por que o déficit habitacional é tão difícil de ser revertido hoje no Brasil? Acredita que falta mais atenção para essa parcela da população, como em políticas de suporte do governo, como até mesmo o Minha Casa Minha Vida?

RM: O déficit habitacional é um dos maiores do mundo. Hoje, por exemplo, os Estados Unidos estão passando por problemas seríssimos de moradias populares. A Europa tem esse problema. Então, por que existem essas comunidades enormes no Brasil? Porque não existia a casa. Tem gente que tem renda e mora numa comunidade, mas não tem a casa para comprar. O Casa Própria é uma política demão dupla, ela não só é para desenvolvimento econômico, como também desenvolvimento social. Agora, é fácil? Não. Nós temos que fazer no Brasil, no mínimo, i milhão e meio de casas por ano para começara atender a demanda mínima da população. A gente tem uma fotografia que o Brasil precisa construir nos próximos 20 anos 35 milhões de casas para a população. E nós não temos feito isso tudo. O programa Casa Verde e Amarela é um programa bom. Só ele não é suficiente, porque é somente para a população lá embaixo, a população de renda muito, e essa população muito desassistida não está tendo a oportunidade de comprar. A gente acha o seguinte: o investimento social na habitação é fundamental em qualquer governo. O Estado tem que ter uma política em habitação. Porque custa muito caro para o Estado aquela pessoa que mora em situação ruim. Eu acho que qualquer governo tem que colocar a habitação como uma das três primeiras prioridades, saúde e educação.

O senhor também é um dos fundadores do Banco Inter. Como avalia o sistema financeiro atual e como vê as críticas constantes às instituições bancárias do país?

RM: O sistema financeiro brasileiro como um todo é sólido, já deu provas disso. Houve uma grande crise em 2008, quando bancos do mundo todo passaram por grandes dificuldades, alguns quebraram, e o Brasil conseguiu sobreviver bem, então é um sistema sólido. O sistema brasileiro é competitivo. Você vê o caso do pix, por exemplo. O Brasil foi o primeiro do mundo. A agenda do Banco Central é uma agenda boa. Existe uma certa confusão. O sistema financeiro às vezes é mal visto como um sistema que cobra juros elevados. De fato, cobra. Mas o sistema é um mero repassador. Porque quando o governo abaixa os juros, o sistema também abaixa. Quando ogoverno sobe, o sistema sobe. Agora os juros no Brasil não são juros bons. Então a tristeza, por exemplo, de ter que aumentar juros… É necessário? É. Mas nós estamos voltando a ser um dos países com maiores juros no mundo. Os juros subiram, espero que seja a última subida essa, e a população paga muito caro por isso. Porque a população é quem pega todo o crédito. Então o governo sobe os juros para segurar a inflação, mas quem paga a conta é a população. E ainda mais a população menos assistida. E a culpa não é dos bancos, é da estrutura, do excesso de gastos. Hoje a inflação é um problema mundial, com a quebra das cadeias produtivas. É um problema muito complexo, o problema é que ainda não está definido o que vai acontecer com a inflação nos próximos seis meses. Essa inflação vai acabar mais tarde? Vai demorar um pouco mais? As cadeias produtivas vão voltar? Está sendo discutido no mundo todo. É complexo. Nada mais saudável do que uma taxa de juros baixa para poder beneficiar não só a população, como toda a economia. Beneficia os investimentos. A economia não sofreu tanto com a covid-19 no ano retrasado exatamente porque os juros eram mais baixos. Todo mundo quer juros baixos, e temos que lutar pra isso.

Na área da comunicação, o senhor surpreendeu muita gente ao assumir o controle da CNN, inclusive desbancando o favoritismo que até então era da Globo News. Como avalia a emissora hoje e quais os maiores desafios do grupo?

RM: Eu sou fã da imprensa, não tenho bobagem de falar isso. Eu acho que não existe um país que esteja desenvolvido sem uma boa imprensa. A imprensa é fundamental. Eu acho que ela complementa a educação. Então eu posso dizer que a imprensa informa e educa. O papel da imprensa na pandemia foi muito importante para poder alertar a população do que estava acontecendo, do que podia ser feito. Além de tudo, a imprensa tem um trabalho de função social. Quando apareceu a oportunidade de trazer a CNN para o Brasil, o maior canal de notícias do mundo e o Brasil não estava nele. Eu estive em Atlanta na sede do CNN, a CNN estava na Turquia, na Espanha, no Chile, em mais de 40 países no mundo e não estava no Brasil. E eles queriam que estivesse no Brasil. Mais uma vez: o Brasil é um país de 220 milhões de habitantes. Não tem porque a CNN não estar no Brasil. Quando apareceu a oportunidade, eu achei que ia fazer um serviço em prol do desenvolvimento brasileiro, humano, foi uma ação ética. Eu acho que a imprensa tem que ser ética, não só da informação. Assim como vocês do Grupo A TARDE… Vocês têm uma tradição. Ela tem que ser certeira, a informação não pode ser manipulada. Tem que dar uma boa informação para a população. Acho que a CNN está fazendo isso. Estou muito satisfeito com o resultado da CNN.

E num momento de tantas fake news, fortalecer o trabalho da imprensa se faz cada vez mais necessário, não é?

RM: Você pegou num ponto que eu gosto muito. De vez em quando a gente recebe essas notícias na internet. O que tem de fakenewseas pessoas ainda acreditam nisso… Agora, você não vai ver uma fake news na CNN, no ATARDE, isso que eu acho importante. As pessoas têm que saber procurar, verificar. É muito importante separar o joio do trigo.

Mesmo não se envolvendo diretamente com a política, o que o senhor acha que deve ser colocado como prioridade pelo próximo presidente da República?

RM: Eu gosto de política, acho que o país só se resolve pela política. Não tem outra forma. Fora disso é ruim, é uma ditadura. Sou a favor da democracia e da política, vamos melhorar a política. Eu vejo que o Brasil, infelizmente, é um país muito desunido. Eu nunca vi uma nação tão desunida e binária como o Brasil está hoje. Nós precisamos unir a nação. Nós temos que ter projetos não pessoais, não projetos políticos de determinado partido, de determinado setor, nós temos que ter um projeto de nação. S ó assim a gente começa a mudar.

Como define sua relação com a Bahia?

RM: Vou te contar um negócio que é muito particular. Eu vou muito a Trancoso porque eu tenho uma filha que tem uma casa lá e me convida muito. Eu acho que é um dos lugares mais bonitos que eu conheço, não só mais bonitos, mas mais gostosos de ficar. Então, quando eu estou muito cansado, eu vou para a Bahia para descansar. A Bahia é o seguinte, eu falo isso do fundo do meu coração, a cultura da Bahia, a música… Quando eu comecei minha vida, foi quando a música baiana estava arrebentando a boca do balão. Até hoje ela é muito forte, mas ela começou com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa. Foi quando começou esse movimento. E eu adoro esse tipo de música até hoje. É uma pena que nós temos pouco desse tipo de música. Essa música marcou épocas de minha vida. Eu acho a cultura da Bahia muito bacana, as belezas naturais do estado, Salvador é uma cidade muito boa. Torço muito pelo Brasil e pela Bahia. Uma indústria que eu acho que vai ajudar muito o Brasil é a indústria do turismo. Nós temos que ganhar muito dinheiro. Nós temos o litoral do Nordeste, que é ímpar, tem tudo que você pensar. Só que a indústria do turismo no Brasil é pequena. O que temos que fazer, um projeto de governo, é incentivar o turismo no Brasil. Fazer hotéis, estrutura, aeroportos. Para atrair o estrangeiro. Isso dá muito dinheiro, muito emprego. Então eu acho que a Bahia tem uma vocação natural pro turismo. É um estado que tem uma fama mundial. Cada vez mais dar mais condições para o turismo. 0 baiano é muito interessante, porque é sempre do bem, baiano não gosta de briga, baiano gosta de paz. Mas eu acho que a Bahia é muito bem representada, muito querida pelo Brasil. Hoje a música baiana mudou muito, é muito boa ainda, mas ela “vendeu” muito bem a Bahia para o Brasil e o mundo. Ela significa muito do que a Bahia é. O Brasil precisa construir nos próximos 20 anos 35 milhões de casas Nós temos que ter um projeto de nação. Só assim a gente começa a mudar

Fonte: Grupo A Tarde

 

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